nada é para sempre
isso te conforta ou angustia?
para todos os seres humanos, acredito eu, mas especialmente para aqueles mais emotivos (me incluo no grupo), uma das verdades mais difíceis de aceitar é a de que as estações acabam, ciclos chegam ao fim e todos os seres perecem.
desde muito nova, a frase “nada é para sempre” me trouxe desespero: a ideia de que tudo um dia poderia acabar era simplesmente apavorante. eu tenho memórias de noites sem dormir (aos meus meros cinco anos de idade) pensando que em um dia distante, mas nem por isso menos assustador, eu iria morrer.
eu sei, parece um pensamento um pouco fora do comum para uma criança na fase pré-escolar, porém questões existencialistas sempre foram recorrentes na minha pequena cabecinha desde muito cedo (creio que seja por isso que eu escrevo).
e esse mesmo sentimento, de não querer que as coisas acabem, me acompanhou por muito muito tempo. acho que o primeiro aniversário em que eu não me acabei em lágrimas e finalmente pensei “eu combino com a idade que eu tenho” foi o meu de dezesseis anos. antes disso, eu não queria crescer – ou melhor, eu não queria que aquela fase da minha vida acabasse.
resistimos à passagem do tempo nos agarrando à crença de que coisas boas deveriam durar. só que não funciona dessa forma.
mesmo assim, nós tentamos desesperadamente acreditar em uma realidade onde a vida nunca acaba e relacionamentos nunca chegam ao fim. por mais que às vezes seja reconfortante acreditar nessas mentiras, ou só fingir que a verdade não existe, também há beleza no fato de que tudo vem e vai, e um dia irá findar.
“A vida só é preciosa porque termina, garoto. Acredite no que um Deus diz. Vocês mortais não sabem a sorte que têm”
- Rick Riordan em O Filho de Netuno.
a impermanência pode ser assustadora, mas talvez seja ela que dá sentido a tudo. se os momentos fossem eternos, será que teríamos a mesma urgência de viver? a mesma necessidade de mudar, de criar?
conforme fui crescendo, a minha relação com tudo isso mudou. por mais que às vezes ainda me pego desejando que certos instantes sejam eternos, sei que justamente por não serem é que se tornam importantes. o pôr do sol está aí para nos provar que há beleza no fim.
aceitar que nada dura para sempre não significa viver constantemente em um estado de luto pelo que já passou ou pelo que vai passar, mas pode ser um impulso para aproveitarmos o presente e vivermos no agora.
porque o que quer que você esteja vivendo, independente de ser positivo ou negativo, pode ter certeza que não vai durar pra sempre. alguns eventos levam mais tempo que outras, mas a verdade é que todas elas acabam. e se é dessa forma, então o que realmente importa é o que escolhemos fazer no presente.
queremos que as coisas durem justamente porque acabam. não é engraçado?
“E agora já não há mais nada que possamos fazer / É o mais doído, é o mais difícil de entender / Quero sair dos círculos, mesmo que seja estranho no início” - Mesma trama, mesmo frio por ANAVITORIA.


Uou! Durante uma fase da minha vida, essa questão chegou pra mim, o "medo do futuro e de mudar". Mas nunca curti essa ideia, mesmo sabendo que a vida funciona assim. Gosto das coisas como estão agora, dos meus amigos, da minha escola, da minha rotina, da minha família e até de coisas simples que eu faço, e o fato de que isso um dia vai acabar me deixa bem mal só de pensar sobre, nunca tentei entender o porquê até ler esse artigo. "Se os momentos fossem eternos, será que teríamos a mesma urgência de viver?" Isso foi tão forte e me atingiu de um jeito que vc nem imagina, e me fez parar de ler pra pensar sobre e depois concluir. Espero conseguir enxergar as coisas de outro modo e tentar aproveitar o máximo as coisas, valeu aí.
isso acalmou um pouco a minha mente agitada, obrigada!